terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Grão de mostarda.



Havia uma senhora de idade media, que vivia em uma região de conflito e essa senhora perdera partes de seus bens materiais, por esse fato essa senhora julgou como ter problemas em sua vida, olhava para sua horta destruída e perguntava a si "agora de onde irei plantar?" olhava para seu estábulo já sem vacas e se perguntava "agora aonde terei leite?" olhava para sua casa antes confortável, agora praticamente destruída e se perguntava "aonde irei dormi?".

Essa senhora sofria, pois sua vida tinha vários problemas, ela perdera praticamente tudo, o pouco que possuía se fora. Ela não tinha mais perspectiva para seu futuro, pois tudo o que tinha não passava de uma horta destruída, um estábulo sem vacas e uma casa aos pedaços. Sofria e sofria essa pobre senhora, seus vizinhos preocupados com o sofrimento dessa mulher decidiram ajudá-la, então descobriram que havia um sábio no alto de uma montanha, então decidiram aconselhar essa senhora a visitar esse sábio.

Ela aceitou sem relutância, mesmo que fosse uma longa caminhada ela subiu a montanha e foi receber esses os conselhos, chegando ate o alto da montanha percebeu que o sábio vivia dentro de uma pequena casa, ao entrar na casa o sábio estava a sua espera com uma xícara de chá de mostarda, a senhora sentou-se a mesa e experimentou o inusitado chá enquanto tomava o sábio disse "esse chá alivia as dores físicas, a mostarda realmente alivia as dores" aquela senhora não entendeu o que o sábio quis dizer com " a mostarda alivia as dores" então ela falou para o sábio "senhor eu não possuo dor física, mas sim emocionou eu sou uma desgraçada per di tudo, minha horta não existe mais, meu estábulo esta vazio, minha casa esta destruída, durmo entre escombros, minha vida acabou" o sábio olhou para aquela senhora e disse "como dizia, a mostarda alivia dores, e qualquer tipo de dor" a mulher levantou-se e perguntou "devo comer mostardas para as minhas dores cessarem?" o sábio riu e disse "certamente que não, caso você tivesse dores nas costas lhe daria a receita desse chá, seu caso é mais especial, lhe direi o que você fará. Você precisa encontrar uma casa que nunca teve problemas, quando achar essa casa pergunte se eles tem um grão de mostarda, caso tenha pegue esse grão e seus dores iram aliviar" a senhora levantou-se meio descrente que daria certo, mas seguiu o conselho e saiu de casa em casa perguntando se la nunca havia tido problemas.

Ela chegou a uma casa muito bonita, com flores devia ser uma casa alegre, ali com certeza nunca tivera problemas, era uma linda casa, é certo que era simples, mas com cores alegres, suas flores era encantadoras haviam passarinhos que cantavam ela já se sentia melhor, bateu na porta e percebeu que uma jovem mulher levantou-se entre as flores e foi ate a ela, essa jovem possuía cabelos loiros, mãos delicadas, ela era nem alta nem baixa, possuía olhos claros e um rosto rosado, ela era linda igual a sua casa. Era uma linda jovem com lagrimas nos olhos, flores nas mãos e terra na calça, essa jovem se aproximou aquela senhora e enxugando as lagrimas perguntou aquela senhora "o que desejas em minha humilde casa?" com uma voz tão meiga e doce que faria todos os pássaros da Terra se aproximarem, aquela mulher chegou a invejar aquela jovem e pensou consigo "ela deve ser muito feliz, é linda possui uma linda casa, sua voz é meiga e doce, ela é educada, sabe cuidar de plantas essas lagrimas devem ser de amor, algum lindo cavaleiro a pediu em casamento, se eu fosse ela seria feliz" a jovem a ofereceu uma cadeira e chá de mostarda , a senhora já começou a ficar alegre, uma casa que aparentemente nuca havia tido problemas e tinha mostarda, a senhora já ia pedi um grão de mostarda quando lembrou-se que deveria perguntar se aquela casa nunca havia tido problemas, então a senhora olhou para a jovem e disse "minha jovem, eu sou uma senhora que sofro muito e quero lhe pedir um favor, me de um grão de mostarda, pois um sábio me disse que eu precisava de um grão de mostarda de uma casa que nunca tivera problemas, e vejo o quanto sua casa é linda o quanto você é linda, com certeza você nunca teve problemas" a jovem começou a lagrimar e disse "sinto muito eu não posso ajudá-la, tenho mostarda é verdade, mas também tenho problemas" a senhora não sabia o que fazer vendo aquela jovem soltar rios de lagrimas em sua frente, então aquela senhora decidiu perguntar qual era o problema daquela jovem, com certeza era algo pequena, uma briga com o namorado ou algo do tipo a senhora segurando a mão da jovem e perguntou "qual o problema minha filha, você brigou com seu namorado?" a jovem soluçando disse "adoraria poder brigar com ele, mas ele esta morto" aquela senhora sentiu um frio enorme, não sabia o que falar, então deixou a jovem desabafar "ele era meu noivo, casaríamos mês que vem, ele era lindo era perfeito, qualquer uma morreria para passar um dia ao seu lado, ele me amava muito, logo eu desajeitada do jeito que eu sou, ele era perfeito recusou diversas boas propostas ate uma filha de barão queria ele e ele recusou acredita! Tudo pra ficar comigo, ele me amava muito e eu lhe amava mais ainda ele era perfeito, mas o chamaram para servi na guerra e ele foi morto em combate, recebi uma carta ontem do general dele, na carta dizia que ele morreu como herói, eu não quero um herói! Quero meu amor ao meu lado, não sei mais o que fazer! Estou preparando a casa para a chegada do seu corpo da mesma forma que prepararia quando ele voltasse da guerra, preparei o chá que ele mais gosta, quero vê-lo só mais uma vez antes de eu me despedir dele momentaneamente, eu o amo" a jovem abraçou aquela senhora, a senhora estava sem palavras não sabia o que fazer, o que dizer, apenas abraçou a jovem e disse que tudo ia melhorar, a jovem limpou as lagrimas e com um sorriso e disse "a senhora deve ter sido enviada dos céus eu precisava disso, precisa falar com alguém, as minhas flores não respondem , apenas ouvem sou muito grata aos céus por te enviado a senhora e se não for pedir muito peço que venha amanha aqui de novo, não tenho muitas amigas não queria velar meu marido com desconhecidos apenas, a senhora pode fazer isso?" a senhora penas conseguiu acenar com a cabeça e despedisse daquela jovem, ao sair da casa ja sentia seu problema menor e pensou "eu irei fazer melhor do que conseguir um grão de mostarda, conseguirei dois e darei um a essa jovem" e assim ela foi a segunda casa.

Ela caminhou e viu um lago lindo e uma casa próxima, uma casa interessante ela era diferente possuía contornos harmônicos, combinava perfeitamente com o ambiente ela via uma beleza na casa sem igual, e pensou "que casa linda, só de vê-la eu já fico mais alegre a pessoa que vive nela deve ser muito feliz" ela aproximou-se da casa e bateu na porta, quem a atendeu foi um senhor idoso, com uma bengala e convidou-a a entrar, esse senhor falou que foi uma grande surpresa receber alguém em casa, ele não recebia muitas visitas, ela analisou a casa dele e viu algumas coisas interessantes como varias gravuras feitas a carvão, eram perfeitas, contornos nítidos, sombras e eram gravuras de pessoas. Na casa haviam vários quadros e livros, ela chegou ate uma mesa com duas cadeiras, aquele senhor tirou os livros de cima da mesa e convido-a a se sentar e saborear um chá de mostarda o senhor olhou para ela e perguntou "o que lhe trás ao meu recinto?" quando ela foi dizer sobe a mostarda o senhor disse "fico feliz de ver uma pessoa, eu geralmente só vejo os livros e eu passo meu tempo desenhando, sabia que eu era o arquiteto real? Eu era, mas foi a algum tempo no passado, não muito, fui ate a guerra. Essa era minha casa de ferias, eu gosto muito daqui, achei que você bom eu ficar um tempo aqui, desculpe se estiver sendo chato faz um mês que não vejo ninguém. Sabia que eu tinha um filho, a nora dele era ótima ela sempre me ajudava nos meus desenhos, ela gostava de conversa comigo ela era uma das poucas que não me achavam um louco varrido, eu tinha um neto muito esperto ele me imitava, ele rabiscava um pedaço de papel com carvão e vinha me mostrar ele tinha o jeito do avó a criatividade do pai, meu filho era muito criativo foi ele que projetou essa casa, que bons tempos. Pena que acabou, a única coisa que sobrou foram essas gravuras de carvão" o senhor se levantou e trouxe varias gravuras, numa havia uma criança com algo na mão, a outra havia uma mulher com um longo vestido segurando uma flor, na outra um homem alto e forte, e em uma outra os três juntos o homem parado a mulher com o vestido segurando o braço do homem e a criança sentada no chão amostrando algo, parecia ser uma gravura o senhor olhou para a senhora e disse "essa era a minha família e que linda família!" ele deu uma ultima gravura para ela observar eram vários riscos, mas dava para ver que era uma arvore, um unicorne, um lago e um castelo eram traços bem infantis, mas eram firmes. o Senhor com muito orgulho disse "foi meu neto que fez, ele era um gênio, com certeza teria sido o melhor ele tinha o sangue dos arquitetos em suas veias, mas agora não vou mais ver isso" a senhora já havia entendido o que havia ocorrido, era provável que a família daquele senhor havia sido ceifada na guerra sua desconfiança foi confirmada apos a pequena pausa do senhor "eu tinha tudo, agora tenho nada. Acho que vou me nutrir das boas lembranças, e pela esperança de encontrá-los um dia, enquanto isso vou ler meus livros, pintar minhas telas e riscar meus papeis, não estava em meus planos conversa com alguém de carne e osso, mas eu adoraria conversa com a senhora novamente, se não for muito incomodo, você deve estar pensando que velho louco é esse, pode pensar todos pensam assim, o que mesmo a senhora queria?" a senhora sorrio e disse "ah, só queria visitar as pessoas ao meu a redor, percebo que eu não conheço muitas pessoas, e também estou procurando sementes de mostarda percebo que você tem elas" o senhor sorrio "tenho, mas elas estão moídas, o chá delas é ótimo para dor" a senhora se levantou e disse que já precisava ir o senhor levantou-se e a conduziu ate a porta se despediriam e ele falou "quando a senhora quiser pode vim, eu gostei de sua visita já havia como é bom conversa com uma pessoa." A senhora sorrio e percebeu que seu problema já estava menor.

Quando a senhora saiu da casa percebeu que ela havia ganho uma semente de mostarda, na verdade ela já tinha só que não havia percebido, seu problema havia se tornado um grão de mostarda e agora que ela tinha esse grão ela poderia ajudar as outras pessoas em seus problemas ela descobriu de como a mostarda pode aliviar dores.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Perdão

 

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Muitas vezes nós nos sentimos culpados, por algo que fizemos ou deixamos de fazer. Não vemos saída para nosso sofrimento, pensamos que é o fim, que o que fizemos, não pode ser perdoado.

muitas vezes nos sentimos como a pessoa mais perversa do mundo, a mais hipócrita, a mais ordinária, às vezes pensamos que é melhor não estar nesse mundo, que esse mundo esta melhor sem nós.

Às vezes planejamos como da um fim a isso, como fugir de erros. Muitas vezes algo no passado, que não podemos mudar, algo que abominamos que nos correi, nos aflige, algo que a sociedade usa para nos acusar, algo que se pudéssemos arrancaríamos de nosso passado. Com a culpa vem um outro sentimento, o de que não podemos ser perdoados pelo que fizemos.

Será que Deus pode nos perdoar sempre? Não será melhor uma saída rápida do sofrimento do que esperar o perdão? Será que merecemos o perdão divino, somos dignos disso? Será que não fomos longe de mais?

Essas perguntas afligem muitas pessoas, e muitas não se sentem perdoadas e decidem fugir desse mundo. Muitas dessas pessoas queriam apenas paz, mas não encontraram. Talvez elas esqueceram de algo simples "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça" (1 Jo 1:9), Ele pode nos perdoar, se nós assim desejarmos, mas somos dignos disso? Nós somos pessoas justas? "Não há justo, nem um sequer" (Rm 3:10) se não somos justos, por que Deus nos perdoou? " Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (Jo 3:16) Ele nos perdoa, pelo simples fato, dele nos amar. Quando o homem caiu em pecado, Ele poderia ter destruído o homem, mas não Ele enviou seu próprio filho, para nos livrar do pecado. Mas às vezes, não pecamos a tal ponto de Deus nos odiar? "Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais." (Jo 8:12) esse é um episodio muito conhecido do novo testamento, Jesus perdoa uma mulher adultera, uma mulher que deveria ser condenada ao apedrejamento, uma mulher dita pela sociedade impura, indigna, ordinária, suja. Todos queriam sua execução todos a acusavam, mas Jesus a perdoou e não a condenou, muitas vezes todos nos condenam e ate mesmo nós nos condenamos, mas Cristo quer nos perdoar, não importando o que fizemos "se, todavia, alguém pecar, temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo" (1 Jo 2:1)

Jesus nos ama, e Ele quer nos perdoar sempre, quer que voltemos a seu caminho não importando o quão longe nós fomos. Existe um filme muito interessante chamado o Ultimo espírito, nele uma garotinha se culpa pela morte da irmã, e quer receber o perdão, aonde ela mora existe um ritual peculiar de morte, e ela vê na morte sua saída, mas ela acaba tendo um encontro com o 'grande comedor de pecados' que um dia veio a Terra para nós livrar deles.

" Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve." (Mt 11:28-30) Jesus está disposta a tomar sobre si esse julgo que lhe atormenta, ele quer lhe livrar da culpa, basta voce permitir.

Que Iesus Christos esteja com você.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal.

Natal, hoje é vespera de natal ( para meu credo ja é natal ). Ate a alguns anos atras eu ficava ansioso com essa data, os presentes e tal. Hoje, passo pensativo.

Acabei de voltar de uma cantata, daqui de umas horas irei servi-me da ceia, era para esta de tudo alegre, mas não. Hoje é vespera de natal e muitas pessoas iram dormi com fome, muitos não comemoram o natal de forma tranquila, pois é muito provavel que hoje se intensifique as persegiçoes contra os cristaos em varios pontos da Terra, hoje fico triste em saber que ainda existem famintos, famintos em todos siguinificados. E sinto uma tristeza maior ainda por não ter feito tudo o que poderia para mudar esse quadro, percebo que podia ir alem de doar alimento e dinheiro para açoes humanitarias, percebo que poderia ter feito mais, mas falhei.

Ao mesmo tempo que vem a tristeza vem o consolo de cristo e uma esperança que dias melhores virão, e por saber que ainda posso fazer além das simples doaçoes, eu posso, pois não é apenas no natal que posso fazer o bem, que posso propagar o Amor, o verdadeiro significado do natal é este, lembra-se que um dia Deus veio ate nós e viveu e morreu por nós, e que não importa o dia podemos fazer vale nosso titulo de seguidores de Cristo, podemos fazer pequenas açoes que faram alguma diferença. Desejo a todos um feliz natal e não deixe que esse espirito natalino de ajuda ao proximo morra agora, faça todo o dia natal pois Cristo nos amou e nos ama todos os dias.

Que ele esteja com voce hoje e sempre. A todos um feliz natal.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Castelo



Certa vez um rei, muito rico que possuía diversos vassalos, tinha tudo o que um mortal gostaria de ter, mas se sentia vazio.

Decidiu que deveria viajar, assim conheceria novas pessoas, novas paisagens e assim se sentira completo, preenchido. Passou um ano viajando, tinha momentos felizes, mas logo passavam e o vazio voltava.

Decidiu que deveria se casar, aliás, ele era solitário e talvez uma esposa preenchesse o vazio. Fez uma grande festa para escolher quem seria a sua esposa.

Escolheu a jovem mais bela e virtuosa de todos os reinos vizinhos. O rei pensa que se casando o vazio iria embora, entretanto, após três anos de casado o vazio continuava.

Decidiu que precisava de um herdeiro, assim ele seria feliz e o vazio iria embora. Quando seu filho nasceu foi uma grande festa, a maior que já teve. Passou um mês se sentido preenchido, mas com o tempo, esse sentimento passou,e continuava a se sentir vazio.

O rei não sabia mais o que fazer. Há anos ele tentava tirar esse seu vazio do coração, e não sabia por que se sentia assim, afinal, ele conquistara vários reinos, tinha uma família e tinha tudo o que pudesse desejar, mas ainda sim se sentia vazio.

Decidiu dar uma volta à cavalo pelo seu reino, para tentar esquecer o vazio. Foi em vão. Cada vez crescia mais esse vazio. Então avistou uma linda árvore perto de um riacho e sentou em baixo dela para descansar. Viu um lenhador com aparência de muito pobre, mas feliz. Ele cantarolava algo que o rei não conseguiu escutar.

Decididamente o rei aproximou-se do homem com o intuito de descobrir o motivo de tamanha felicidade. Impôs a postura de realeza identificando-se e exigindo que ele, como súdito, lhe desse o segredo de tão sincera alegria.

O homem sorriu para o rei e apenas disse "Deus está comigo". E voltou a cortar a lenha. O rei passou um tempo parado pensando quando o homem encostou a mão em seu ombro e disse: "sou um pobre lenhador, moro sozinho naquela casa do outro lado do riacho, tenho apenas um teto, alimento para minha subsistência e meu Deus, mas se o senhor quiser vir cear comigo eu mostro como é ser verdadeiramente feliz". O rei hesitou por um momento, pois não conseguia ver-se ceando com um súdito, em uma pequena cabana. Seu orgulho não permitia. Olhou para o lenhador e disse: "Eu deveria mandar corta a sua mão! Como ousa tocar-me? Olhe para você, um pobre lenhador, e eu, um grande rei... Eu não quero ver como é sua infelicidade, pois ninguém pode ser feliz nessas condições". Voltando-se para o cavalo, o rei saiu em disparada para o castelo. Algo que aquele lenhador dissera afetara profundamente seu coração, mas não sabia o que era.

O rei não conseguiu dormir, andava de um lado para o outro dentro do seu grande castelo. Andava e pensava: "por que ele é tão feliz? Por quê?". Então decidiu chamar seus soldados e ordenou que eles fossem até a casa daquele homem e trouxessem-no, se necessário que usassem a força. O rei estava obcecado, queria ser feliz. Mas os soldados voltaram e disseram que nada foi encontrado. Nem o lenhador, nem a cabana.

O rei não entendia. Aquilo havia sido tão real. Então pensou no que o homem dissera: "Deus está comigo”. O rei pensou: "deve ser isso, assim eu ficarei feliz".

Decidiu o rei então que deveria ter Deus consigo e pensou o que deveria fazer para consegui-Lo. Sendo muito rico decidiu construir um templo para Deus. Pensava dessa forma: "com esse templo Deus virá a mim. Deus se alegrará comigo". Mas não foi como o esperado. Ele continuou sentindo o mesmo vazio. Nada mudara. Decidiu fazer uma festa para Deus, mas não deu certo. Pensou então que deveria conquistar novos reinos para Deus. Conquistou diversos povos, mas o vazio continuava. Então o rei pensou: "Deus deve ser um rei muito rico, pois nada do que eu faço O faz vir a mim!". Decidiu que deveria fazer de todos os seus súditos, súditos de Deus. Nada aconteceu. O vazio permaneceu inalterado. Decidiu o rei construir uma enorme torre e lá no alto colocar uma enorme quantia, a metade de seu reino em ouro. Pensou: “essa torre é bem alta, fica bem próxima do castelo de Deus e é muito ouro, acho que agora Deus virá até mim”. De nada adiantou. Pensou ele: “O que fazer?”. Lembrou-se de quando era criança, que um padre dissera: “se não fizer nada de errado, Deus fica feliz com você”. Então decidiu virar um homem 'santo'.

Não fazia mais nada de errado, e até ajudava os pobres, mas tudo era apenas uma máscara.Todas suas ações eram disfarçadas, e tinham apenas um objetivo: Atrair a Deus para preencher-lhe o vazio. Queria fazer isso para que Deus viesse até ele. De nada adiantou.

O homem, sentindo o mesmo vazio de anos, decidiu ir até aquele riacho para pensar e viu de longe uma cabana idêntica àquela. O rei não sabia se aquilo era real, enquanto olhava para o céu iluminado pelas estrelas sentiu uma mão em seu ombro. Era aquele mesmo lenhador, que perguntou: "conseguiu ser feliz?". O rei respondeu: "não". O homem perguntou: "gostaria de entrar em minha casa?" o rei novamente hesitou por um tempo, mas dessa vez cedeu.

A casa do homem era simples, bem simples. Tinha apenas três cômodos. O rei sentou em uma cadeira e antes que dissesse algo, o homem disse: "o que você tem feito para se aproximar de Deus?". O rei disse: "bem, eu fiz muitas coisas, mas Deus não se aproximou de mim". O homem riu e disse: "quem garante?". "Eu", respondeu o rei. "Eu ofereci-lhe uma fortuna e ele recusou, eu tornei-me um homem santo e ele não deu crédito algum, eu construí, conquistei para ele e não recebi ao menos agradecimento!". O homem olhou pra o rei e perguntou: "E você, tentou se aproximar de Deus?" o rei ficou sem resposta e apenas disse "eu achei que por minhas obras pudesse fazê-Lo vir até mim. Nunca havia pensado que eu poderia procurá-lo, quer dizer que eu não deveria ter feito nada disso?" o homem respondeu "você não fez nada errado, só não fez do jeito certo, você apenas deveria deixar Deus entrar em seu coração, mas seu orgulho não deixou por isso você permanece vazio, você construiu uma fortaleza impenetrável chamada ‘Eu’, e você não permite que Deus esteja nela" o rei abaixou a cabeça tirou sua coroa e começou a chorar. "Há anos que eu procuro Deus, e nada consegui. Agora eu percebo que sempre Deus esteve ao meu lado, só que eu estava tão cheio do ‘Eu’ que não conseguia vê-lo. Percebo agora que tudo que fiz foi só para mostrar o meu ‘Eu’, para meu criador, eu tentei agradá-lo dei tudo menos o meu ‘Eu’. Estou arrependido, será que ainda há tempo para renunciar o meu Eu?" o homem riu e disse "Certamente que há!". O rei com um sorriso perguntou: "como?" o homem respondeu: "Deixe Deus entrar".

Às vezes tentamos nos aproximar de Deus de uma forma equivocada, tentamos por nossas forças tornar-nos dignos. Muitas vezes fazemos isso por uma razão simples: acreditamos que Deus segue a lógica humana, não conseguimos acreditar que Jesus morreu por nós apenas pelo Amor. Às vezes acreditamos que não basta Deus nos amar, acreditamos que temos de fazer algo, seja respeitar os mandamentos, seja boas obras. Tiramos de Deus o controle e acreditamos que por nossas forças podemos alcançá-lo.

Não é errado praticar boas obras, guardar os mandamentos, e é inclusive correto, entretanto não devemos vê-los como instrumento de salvação ou como uma forma de atrair o maior amor de Deus. Às vezes até temos boa intenção no momento que seguimos essa linha, mas com o tempo nos tornamos “neo-fariseus”, vivemos um cristianismo falso cujo nosso 'cristo' não é Jesus, mas sim leis, dogmas e obras. Acabamos por ajudar nossos irmãos, guardar os mandamentos, mas não pelo motivo puro, não por amor, mas sim por um interesse, seja em ser salvo, maquiar nosso verdadeiro eu ou sentir-se mais digno que outros. Vejamos um pequeno exemplo presente no NT. Uma parábola proferida por Jesus presente em Lc 18:9-14 que aborda um pouco o “mais digno” e o “menos digno”:

"E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo, para orar; um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: O Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo. O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado."

A básica diferença entre eles é que o fariseu exaltava-se diante de Deus, ora basicamente para falar "veja eu sou mais digno do que ele". Conte quantas vezes o pronome eu e meu está presente na oração do fariseu. O fariseu coloca o Eu a frente de tudo, pois no Eu ele vê forças para sua salvação, para sua dignidade, e o ‘Eu’ mascara seu caráter. Hoje temos muitos fariseus aonde o Eu e o Meu falam é o seu cristo e Jesus fica sem espaço.

Muitos não vêem muita importância em ser humilde ou modesto, preferem ser soberbos, preferem orgulhar-se pelos seus feitos, pelas suas conquistas, pela sua vida que figurativamente se assemelha a um castelo. Essas pessoas têm seu cristo não em Jesus, mas sim no seu Eu, e muitas vezes esse Eu é apenas uma maquiagem do verdadeiro caráter. Muitas dessas pessoas são verdadeiros “neo-fariseus”, possuem a mesma prática legalista, se configuram em algo para exibir-se, seja para congregação, seja para sociedade. Muitas dessas pessoas procuram os erros dos outros, já que acabam se sentindo mais puras, mais dignas. Existem dois versículos da bíblia no NT que abordam esse assunto. Um está em Lc 6:41 e outro está em 1Co 10:12. Começamos por Lucas: "E por que atentas tu no argueiro que está no olho de teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho?". Nesse versículo percebe-se que antes de procurar os erros do próximo devemos reparar os nossos, isso é algo aparentemente simples, mas que tem um grande efeito, pois no momento em que reparamos os nossos erros, tiramos de nossas vidas o que de nós degrada, mudamos de postura em relação aos outros, passamos a não mais acusar mais sim ajudar aquele irmão em seus problemas, em seus erros. Vejamos agora 1Co 10:12 : "Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia". Nesse versículo percebemos certo alerta àqueles que se acham fortificados e dignos. Que esses cuidem para que não caiam. A razão é muito simples: a soberba. A soberba é considerada um pecado e não é à toa, pois ela é considerada o pecado de Lúcifer que caiu e transformou-se em Satanás. Esse pecado é uma porta para outros, pois quando nos achamos superiores não nos importamos em nos expor às tentações, pois somos imunes, somos fortes podemos resistir, somos melhores que o pobre pecador, então acabamos por nos expor cada vez mais até que cometemos ações pecaminosas. (Discutiremos a definição de pecado em um post posterior).

Agora apenas uma pergunta: Por que existem pessoas assim? Que tem seu cristo no que tem ou no que faz? A resposta é apenas uma: a mídia. Não estou falando apenas da mídia terrena, mas sim de uma mais antiga uma que conseguiu que um terço dos anjos a aderisse, antes mesmo da queda, a mesma mídia que fez o homem cair e a mesma mídia que ainda hoje faz o homem cair, o que se vê hoje na mídia se não a competição? Desde criança se aprende que você é o que tem, não podemos negar que isso em nossa sociedade capitalista tem um imenso poder. Os próprios cristãos foram contaminados. Hoje em igrejas você é o seu cargo, você é a sua obra, você é o resultado, o Eu vem na frente, o cristo de muitos não é Jesus, mas sim o Eu e o Meu. Hoje alguns com suas próprias forças querem a salvação e isso é uma estratégia da mídia, mas de onde vem isso?

Falemos um pouco da mídia dos homens, existe um documentário muito interessante neste site http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/Biblioteca.aspx?v=8&pid=40
Esse documentário trata do consumismo infantil, a mídia hoje atinge as crianças, mata a sua infância transformando-as em consumidores de primeira linha e isso afeta suas vidas de inúmeras maneiras inclusive na espiritual. Trocar o ser pelo ter não combina com Jesus, você não pode acreditar nos dois, ou você é um consumista ou você segue a Cristo Jesus. Irei defender minha tese usando os seguintes argumentos: é impossível seguir duas ideologias distintas (Mateus 6:24), a acepção de pessoas é inevitável quando você é consumista pois você tem e ele não, você torna-se melhor e a acepção de pessoas é um pecado (Tiago 2:9) e existem apenas dois caminhos (Mt 7: 13- 14 ).

Outro ponto para se pensar é que hoje a mídia tenta preencher um espaço pertencente a Deus, mas “a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui" (Lucas 12: 15). Agora é mais para as mulheres que veem em sua beleza a sua pessoa, o que é pregado pelas mídias, e elas investem na beleza, investem em adornos, investem em roupas, plásticas e cosméticos, enquanto segundo a luz da bíblia não é assim. " Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, Mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras." ( 1 Timóteo 2:9-10 )

O que você tem não determina quem você é para Deus, hoje a mídia fala o contrário. Logo, a mídia vai contra ao princípio de Deus, logo ela vai de acordo, mesmo que não intencionalmente, com o princípio do inimigo, não devemos nos expor a ela. Não devemos expor as crianças a ela, não devemos deixar que mais pessoas sejam envenenadas por ela, deixar que mais fariseus surjam por causa dela, pessoas que acreditam no ter, no Eu. Tudo começou assim com um anjo que quis o Eu, desde então a mídia vem com sua sutileza implantando o Eu e hoje basta ligar uma televisão para ver quem é o homem: um ser movido por fatores exteriores. Isso não está de acordo com os planos de Deus, nós temos cedido muito. O Natal hoje é quase que totalmente consumista, mesmo o natal sendo um sincretismo deveríamos usá-lo com alguma finalidade e não apenas ceder às estratégias de Satanás. Às vezes entregamos nossos filhos a isso, claro que não devemos prender nossos filhos, impedi-los de assistir televisão ou algo parecido, mas devemos mostrá-los quem é Deus com nosso exemplo, devemos passar mais tempo com nossos filhos que eles com a televisão. Não é à toa que muitos se perdem hoje, deixamos que entre em nossas casas a arma mais sutil. Alguns impedem as novelas, mas o filho pede um brinquedo só por que ele viu um comercial e compramos. Do que adiantou? Devemos ficar atentos com o consumismo, não podemos deixar que invadam nossos corações. Podes afirmar que presentes é um sinal de afeto, realmente é, um abraço também, uma palavra carinhosa também, um momento para conversa também, "muitos filhos bem mais que um palácio prefeririam um abraço e do amor entre seus pais". Essa frase não é minha é do padre Jose Fernandes de Oliveira, o padre Zezinho, em sua música Utopia. Vejam, as pessoas não precisam do que a mídia oferece, mas sim de amor. O mundo permanece infeliz porque falta o Amor, as pessoas ficam vazias e tentam preencher mais são incapazes. Então surgem todas as doenças da pós-modernidade. Onde esta a origem? Na Mídia.

Pensemos bem antes de querer ser o que tem ou o que faz, antes de ter como Cristo o Eu e o Meu, isso vem das mídias, e principalmente de uma que existe desde o principio, uma que há milênios engana o homem, julguemos nossos valores, pensemos em qual ideologia realmente seguimos.

“Porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui". Pense nisto.
Que Iesus Christos esteja com você.



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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O melhor lugar do mundo.

Aonde é o melhor lugar do mundo? Podemos dizer alguns locais que sem duvida são ótimos para se viver. Vamos começar pela melhor cidade do mundo para se viver, Vancouver, Canadá. Ela é bicampeã mundial como a melhor cidade do mundo segundo Economist Intelligence Unit, essa cidade obteve nota 98, numa escala de 0 a 100.
Sem duvida Vancouver é uma ótima cidade, possui parques, lagos, montanhas, praias, galerias de arte... Tem-se nessa cidade grandes opções de lazer, será Vancouver o melhor lugar do mundo?
Vejam algumas fotos de Vancouver.

Vancouver sem duvida é bem melhor que muitas cidades brasileiras, entretanto Vancouver, como qualquer outra cidade do mundo, tem seus problemas sociais. Pobreza e violência estão presentes em Vancouver. Na época dos jogos olímpicos, de 2010, Vancouver tentou esconder essa sua face, mas não conseguiu. Leiam abaixo um fragmento do The New York Times de 05/02/2010.

"Neste oásis urbano amplamente considerado um dos lugares de melhor qualidade de vida no mundo, o Downtown Eastside representa cerca de 15 quadras do oposto. A esquina da Main e Hastings era o local onde moradores do código de endereçamento postal mais pobre do Canadá passavam uma recente tarde de terça-feira. Um homem acendia um cachimbo de crack, inalando profundamente. Outro urinava em um muro. Outro queimava uma cartela de fósforos, resmungando para a chama. Dois homens começaram a brigar. Um empunhava um assento de bicicleta, o outro uma salada que espalhava pela calçada"
Será que ainda é o melhor lugar do mundo?

Vamos tentar mudar de estratégia, vamos para a Europa, mais precisamente para Noruega, considerado o melhor país do mundo, seu IDH é de 0,938 considerado muito elevado, possui um coeficiente Gini baixo, indica que é um país pouco desigual. Uma renda per capita de quase 60.000 US$. Um índice de alfabetismo de 99,0%. Aparentemente é o paraíso. Possui paisagens magníficas. Veja abaixo algumas fotos.

Muitos de nós talvez acreditamos que ai é o melhor lugar do mundo, um lugar quase perfeito todos as pessoas devem ser felizes nesse local, mas não. Esse país por mais magnífico que seja, possui uma taxa de suicídio considerável. O suicídio não poderia estar presente no melhor lugar do mundo, não achas?

Vimos aqui dois exemplos do que poderia ser o melhor lugar do mundo para o homem, entretanto mesmo lugares ditos perfeitos têm seus problemas. Então onde é o melhor lugar do mundo?

O melhor lugar do mundo é em um lugar onde você fica em paz, mesmo que o mundo ou seu redor esteja em guerra, é em um local aonde a tristeza desaparece e a alegria toma conta de você, é um lugar singular, aonde as palavras não são capazes de descrever, sabe onde é esse lugar? Esse lugar pode ser onde você está, basta querer, pois esse lugar é aos pés do salvador.

Que Iesus Christos esteja com você.




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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Coisas invisiveis.

Ainda que a fraqueza sobrevenha
E o meu corpo já cansado desfaleça
Jamais irei desanimar, nem desistir de continuar
Pois o Espírito de Deus se renova em mim
E a cada dia eu me fortaleço mais assim

Eu não olho para as coisas que hoje posso ver
Que não duram muito tempo e logo vão passar
Mas eu olho para as coisas invisíveis
Pois jamais acabarão
São sublimes, eternais

Meu sofrimento aqui é tão pequeno
Minha aflição tão curta e passageira
Se eu pudesse comparar com a glória eterna que virá
Pois as bênçãos lá do céu
Que meu Deus preparou
São bem mais, são muito mais do que eu posso imaginar
Eu não olho para as coisas que hoje posso ver
Que não duram muito tempo e logo vão passar
Mas eu olho para as coisas invisíveis
Pois jamais acabarão
São sublimes, eternais

Composição: Wendel Matos


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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Aonde está Deus, está o amor

Havia numa cidadezinha um sapateiro chamado Mikail Avdeievitch. Morava num porão cuja única janela dava para a rua, na altura do chão. Embora visse apenas os pés de quem passava pela rua, Mikail conhecia todas as pessoas pelos sapatos que usavam. Como já era velho e competente em seu trabalho, era raro um par de botas que não houvesse passado por suas mãos, fosse para um remendo, uma meia-sola ou para colocar um novo cano. Assim, era comum ver passar pela janela uma obra sua.

Mikail estava sempre muito ocupado, pois trabalhava com perfeição, usava material de boa qualidade, não cobrava caro e entregava no prazo prometido. Por isso todos o estimavam e nunca lhe faltava serviço.

Sempre fora um homem bom mas, ao envelhecer, começou a se preocupar com sua alma e queria se aproximar de Deus. Sua mulher tinha morrido quando ele ainda era aprendiz, deixando um filho de três anos. Haviam tido outros filhos antes, mas todos tinham morrido. Ao se ver só com o menino pensou em mandá-lo para a casa de um tio, na aldeia, mas ponderou: “Será muito triste para o pequeno Karp viver longe de mim. É melhor ficar mesmo comigo”.

Pouco tempo depois, despediu-se do patrão e abriu sua própria oficina. Deus, porém, não velava muito por seus filhos. Quando o que lhe restara se tornou rapaz e começou a ajudá-lo, adoeceu e morreu em uma semana.

Mikail enterrou o filho. A perda feriu-lhe de tal modo o coração que chegou a murmurar contra a justiça divina. Sentia-se tão infeliz que implorava a Deus que lhe tirasse também a vida. Censurava o Senhor por não levar a ele, que já era velho, em lugar do filho único tão querido, e deixou de ir à igreja.

Um dia, na época da Páscoa, chegou à casa do sapateiro um conterrâneo seu que há oito anos percorria o mundo como peregrino. Conversaram muito tempo e Mikail se queixou amargamente da sua desgraça.

- Perdi o desejo de viver, agora só espero a morte. Peço a Deus que me leve, pois não tenho mais ilusões na vida.

- Não fale assim, Mikail. Os homens não devem julgar a vontade do Senhor, pois suas razões estão acima do nosso entendimento. Se Ele decidiu que seu filho morresse e você vivesse, tem que ser assim. Você se desespera porque só quer viver para sua própria felicidade.

- E para que viver, se não para isso? - perguntou o sapateiro.

- É preciso viver para Deus. É ele quem dá a vida e para ele devemos viver. Quando entender isso, seu sofrimento terminará e você suportará tudo com paciência e resignação.

Mikail ficou calado por um momento, e disse:

- E como se vive para Deus?

- Como Cristo ensinou. Você sabe ler? Pode aprender nos Evangelhos. Na Sagrada Escritura você encontrará resposta para todas as perguntas.

Essas palavras calaram fundo no coração de Mikail. No mesmo dia comprou um exemplar do Novo Testamento, impresso em letras bem grandes, e começou a ler.

Pretendia pegá-lo somente nos dias de folga, mas o texto lhe trazia tal consolo à alma que foi adquirindo o hábito de ler algumas páginas todos os dias. Às vezes se entretinha de tal modo que só deixava o livro quando o óleo da lâmpada terminava.

Lia todas as noites. À medida que progredia na leitura, ia compreendendo com maior clareza o que Deus exigia, como viver para Deus, e a alegria penetrava docemente em sua alma.

Acostumado a ir se deitar gemendo e suspirando com a lembrança dos filhos, agora dizia:

- Glória a Deus, glória ao Senhor, pois essa foi a sua vontade.

A vida do sapateiro transformou-se completamente. Antes, nos dias de festa, ia para a taberna tomar chá e, por vezes, um gole de vodca com os amigos. Nessas ocasiões saía da taberna não propriamente embriagado, mas um tanto eufórico, e dizia bobagens, chegava a insultar quem encontrava no caminho.

Agora tudo mudara. Sua vida transcorria em harmonia e paz. Punha-se a trabalhar ao amanhecer e, terminado o dia, colocava a lâmpada sobre a mesa, tirava o livro da prateleira e sentava-se para ler. Quanto mais lia, melhor compreendia e uma suave serenidade envolvia-lhe a alma.

Uma noite estendeu a leitura até bem tarde e, chegando ao capítulo VI do Evangelho de São Lucas, encontrou os seguintes versículos:

“Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. Ao que te tirar o manto, não o impeças de levar também a túnica. Dá a todo aquele que te pede; e ao que leva o que é teu, não lhe tornes a pedir. O que quereis que vos façam os homens, fazei-o também a eles”.

A seguir, leu que o Senhor disse:

“Por que me chamais: Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos digo? Todo aquele que vem a mim, que ouve minhas palavras e as põe em prática, eu vos mostrarei a quem ele é semelhante. É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou profundamente e pôs os alicerces sobre a rocha. Vindo uma inundação, investiu a torrente contra aquela casa e não pôde movê-la, porque estava bem edificada. Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou a sua casa sobre a terra, sem fundamentos. Investiu a torrente contra ela e logo caiu, e foi grande a ruína daquela casa.”

Ao ler essas palavras, seu coração se inundou de alegria. Deixou os óculos sobre o livro e apoiou os cotovelos na mesa, imerso em reflexão. Comparou seus próprios atos a essas palavras, e disse:

- Minha casa está fundada sobre rocha ou sobre areia? Seria bom se estivesse apoiada na rocha. A felicidade nos domina quando estamos em paz com a consciência, procedendo como Deus quer. Quando nos esquecemos de Deus podemos cair outra vez em pecado. Continuarei como estou, pois sinto que é bom. Que Deus me proteja!

Mergulhado nesses pensamentos, resolveu ir se deitar. Mas relutava em largar o livro e começou o sétimo capítulo. Leu a história do centurião, a do filho da viúva e a resposta de Jesus aos discípulos de São João. Chegou ao trecho em que o rico fariseu convidou Jesus para ir à sua casa, onde a pecadora ungiu-lhe os pés e os lavou com suas lágrimas e Ele perdoou-lhe os pecados, e leu ainda:

“E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, não me deste água para os pés; ela, com as suas lágrimas me banhou os pés, e enxugou-os com os cabelos. Não me deste o ósculo da paz; porém ela, desde que entrou, não cessou de beijar os meus pés. Não ungiste minha cabeça com bálsamo, porém esta ungiu com bálsamo os meus pés.”

Ao ler esse versículo, Mikail pensou: “Não lhe deu água para os pés, não o beijou, não ungiu a cabeça dele com bálsamo...” Tornou a tirar os óculos, colocou-os sobre o livro e voltou às reflexões. “Aquele fariseu deve ter sido como eu. Ele também só pensava em si mesmo - tomar o seu chá, estar agasalhado, confortável, nem um pensamento para o hóspede. Cuidava de sua vida e nem pensava no conforto do convidado. E quem era esse convidado? O próprio Deus! Se Ele viesse me visitar, eu faria a mesma coisa?”

Mikail apoiou a cabeça nos braços cruzados sobre a mesa e, sem se dar conta, adormeceu.

- Mikail! - disse uma voz de repente, sussurrando em seu ouvido. Despertou assustado. - Quem é? - perguntou.

Olhou em volta, olhou para a porta, não viu ninguém. A voz tornou a chamar, desta vez com mais clareza.

- Mikail, Mikail! Olha para a rua amanhã, pois eu virei.

Mikail levantou-se da cadeira, esfregando os olhos, sem saber se ouvira as palavras num sonho ou acordado. Apagou a lâmpada e foi dormir.

No dia seguinte levantou-se antes do amanhecer, fez suas orações e acendeu o fogo para preparar a sopa de repolho e o mingau. Mantendo acesa a chama do samovar, vestiu o avental e sentou-se junto à janela para trabalhar.

Não conseguia afastar o pensamento do que acontecera na véspera, sem saber se fora uma alucinação ou se alguém falara realmente.

- São coisas que acontecem na vida - disse a si mesmo.

Continuava a trabalhar, espiando de vez em quando pela janela e, quando passavam botas desconhecidas, levantava-se para ver o rosto da pessoa.

Passou um carregador calçando botas novas de camurça, passou um velho soldado do tempo de Nicolau, com botas de cano alto tão velhas e remendadas quanto ele próprio. Esse soldado chamava-se Stepanovitch. Morava na casa de um comerciante da vizinhança, que o acolhia por caridade. Para dar-lhe uma ocupação condizente com a idade avançada, encarregara-o de ajudar o porteiro.

Stepanovitch parou em frente à janela e, com uma pá, começou a tirar a neve da rua. Mikail olhou para ele e continuou a trabalhar.

- Sou mesmo um tolo - disse ele, rindo de si mesmo. - Stepanovitch está limpando a neve e imagino que Cristo vem me visitar. Estou delirando. Estou louco.

Mal tinha dado dez pontos, porém, voltou a olhar pela janela e viu a pá encostada à parede e o velho soldado tentando se aquecer. “Esse infeliz está muito velho - pensou Mikail. - Já não tem forças para tirar a neve. Uma xícara de chá lhe faria bem. E o samovar está fervendo.”

Cravou a sovela no tamborete, levantou-se, pôs o samovar na mesa, colocou mais água e deu uma pancadinha na janela. Stepanovitch virou-se. Mikail fez-lhe um sinal e foi abrir a porta.

- Entre. Venha se aquecer, você deve estar com frio.

- Valha-me Deus! Muito frio! Os ossos chegam a doer - disse o velho.

Sacudiu a neve dos pés, para não sujar o chão e quase caiu ao entrar, tão trôpego estava.

- Não se preocupe com a neve nos pés. Vou ter mesmo que varrer o chão; não faz mal sujá-lo. Venha, vamos tomar um chá.

Mikail serviu duas xícaras de chá escaldante e deu uma ao hóspede. Derramou um pouco no pires e soprou para esfriá-lo.

Ao terminar, o soldado colocou a xícara emborcada no pires e, em cima dela, o resto do tablete de açúcar. Agradeceu ao sapateiro, mas estava claro que tomaria de bom grado mais uma xícara do chá quente.

- Tome mais - disse Mikail, enchendo de novo as duas xícaras. A cada gole, olhava pela janela.

- Está esperando alguém? - perguntou o convidado.

- Se estou esperando alguém? Tenho vergonha de dizer a quem espero. Nem sei se tenho razão para esperar ou não, mas ontem à noite ouvi uma coisa que não me sai da cabeça. Se foi verdade ou fantasia, não sei. Sabe, meu amigo, ontem à noite eu estava lendo o Evangelho... Jesus sofreu muito entre os homens! Já ouviu falar nisso, não?
- Sem dúvida, já ouvi falar, mas sou ignorante, não sei ler...

- Pois eu estava lendo a história de Jesus na Terra e cheguei à parte em que ele foi à casa de um fariseu que não o recebeu bem... Depois fiquei pensando como seria possível não receber bem Jesus Cristo. Se acontecesse a mim, nem sei o que faria em sua honra! Mas o fariseu não o tratou bem. Enquanto pensava nessas coisas, adormeci. De repente, ouvi alguém dizer meu nome. Acordei, e parecia que alguém sussurrava: “Espere, que eu virei amanhã.” Disse duas vezes seguidas. E por incrível que pareça, apesar de ter vergonha de acreditar nisso, estou esperando a visita do Senhor!

O soldado balançou a cabeça sem nada dizer, terminou de beber o chá e emborcou a xícara, mas Mikail tornou a enchê-la.

- Tome mais, o chá faz bem. Acho que o Senhor nunca rejeitou ninguém, quando andava pelo mundo. Andava com os humildes, visitava os pobres. Os discípulos eram gente simples como nós, pescadores, artesãos. “O que se exalta será humilhado e o que se humilha será exaltado... Chamais-me Senhor e eu vos lavo os pés; aquele que quiser ser o primeiro deve ser o servidor dos demais. Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus.”

Stepanovitch tinha esquecido sua xícara de chá. Era um velho sensível. Ouvindo as palavras de Mikail, as lágrimas corriam pelo seu rosto.

- Vamos, tome mais - disse o sapateiro.

O soldado fez o sinal da cruz, agradeceu e, afastando a xícara, se pôs de pé.

- Agradeço muito, Mikail por me receber tão bem, satisfazendo ao mesmo tempo meu corpo e minha alma.

- Estou sempre ao seu dispor. Venha sempre que quiser, tenho prazer em recebê-lo.

- Quando Stepanovitch saiu, Mikail terminou seu chá e voltou a se sentar junto à janela para trabalhar.

Enquanto costurava, espiava pela janela pensando em tudo o que tinha lido, em tudo o que Jesus dissera.

Passaram dois soldados; um calçava botas do Governo e o outro botas dele mesmo. Depois passou um nobre de galochas e, em seguida, um padeiro carregando um cesto.

Apareceu uma mulher em meias de lã e sapatos de camponesa. Passou em frente à janela e encostou-se à parede. Através da vidraça, Mikail olhou para aquela desconhecida com uma criança nos braços, de costas para o vento. Em vão procurava abrigar a criança, pois não tinha com que envolvê-la. Apesar do frio, a mulher usava roupas de verão, velhas e gastas.

Junto à janela, Mikail ouvia o choro do bebê e via os inúteis esforços da mãe para consolá-la. Levantou-se, abriu a porta e, indo até a rua, gritou:

- Ei, ei, você! Está ouvindo?

A mulher voltou-se para ele.

- Não fique aí nesse frio com a criança. Entre aqui. Pode aquecê-lo melhor aqui dentro. Entre...

A mulher olhou, surpresa, aquele velho de avental e óculos na ponta do nariz que lhe fazia sinais para entrar, mas aceitou.

Desceram os degraus até o pequeno cômodo.

- Venha, sente-se aqui, junto ao fogão. Venha se aquecer para dar de mamar ao menino.

- Não tenho mais leite. Não como nada desde a manhã - disse a mulher, dando mesmo assim o peito à criança.

O sapateiro olhou para o outro lado. Pegou na mesa um pedaço de pão e uma tigela, foi ao fogão e encheu a tigela de sopa. Vendo que o mingau ainda não estava bem cozido, cobriu a mesa com uma toalha, pôs os talheres e serviu só a sopa e o pão.

- Sente-se, venha comer. Eu cuido do menino. Também já tive filhos, sei lidar com crianças.

A mulher fez o sinal-da-cruz, sentou-se à mesa e começou a comer. Mikail deitou o menino na cama e sentou-se ao lado. O menino chorava e Mikail fingiu ameaçá-lo, levando o dedo ao rostinho, mas sem tocá-lo, porque sua mão estava suja de alcatrão. Atento ao movimento do dedo, o bebê parou de chorar e começou a rir.

Enquanto comia, a mulher contou de onde vinha.

- Meu marido é soldado, mas faz oito meses que o levaram e não tenho notícias dele. Trabalhei como cozinheira, mas depois que o bebê nasceu não me quiseram mais. Não trabalho há três meses; já gastei tudo o que tinha. Tentei ser ama-de-leite, mas dizem que estou muito magra e não me aceitam. Fui à casa de uma mulher, onde minha filha trabalha, e me prometeram trabalho, mas só daqui a uma semana... Ela mora muito longe. Fiquei muito cansada e o bebê também. Minha patroa teve pena de mim e nos deixa dormir na casa dela, graças a Deus. Senão, não sei o que seria de nós.

- Não tem uma roupa mais quente? - perguntou o sapateiro.

- Não. Empenhei meu último xale de lã ontem, por vinte copeques.

A mulher foi até a cama pegar a criança. Mikail procurou entre as roupas penduradas na parece e encontrou um velho manto de lã.

- Tome. Está bem usado, mas serve para aquecer.

A mulher olhou para o agasalho, olhou para o sapateiro e, pegando o presente, desatou a chorar. Comovido, Mikail abaixou-se e pegou um bauzinho que estava sob a cama. Remexeu no baú e sentou-se diante da mulher.

- Deus lhe pague - ela disse. - Foi Ele quem me trouxe à sua janela. Não estava tão frio quando saí, mas agora meu filho estava quase congelando. Foi Deus que fez você olhar pela janela e ter compaixão de nós.

Mikail sorriu.

- Sim, foi Deus. Não olhei por acaso - e Mikail contou à mulher que ouvira a voz dizer que Jesus viria à sua casa.

- Tudo pode acontecer - disse ela, levantando-se.

Pegou o manto, enrolou o menino e agradeceu, inclinando-se diante do sapateiro.

- Tome isso, em nome de Deus - ele disse, passando à mão dela uma moeda de vinte copeques. - É para resgatar seu xale.

A mulher fez o sinal-da-cruz. Mikail imitou o gesto e acompanhou-a até a porta.

Depois da sopa, Mikail voltou ao trabalho. Enquanto manejava a sovela, espiava a rua. A cada vulto que se aproximava, levantava os olhos para ver quem era. Alguns eram conhecidos, outros não.

A certa altura, uma velha vendedora de maçãs parou em frente à janela. Restavam poucas maçãs na cesta; certamente já vendera a maior parte. Ela carregava nas costas um saco de gravetos que devia ter apanhado perto de alguma carvoaria e agora levava para casa. Parecia que o ombro lhe doía ao peso do saco e queria trocá-lo de lado. Deixou a cesta no vão da janela e pôs o saco no chão. Enquanto se ocupava em ajeitar os gravetos dentro do saco, apareceu um garoto e roubou uma das maçãs. Antes que conseguisse fugir, a velha agarrou-o pela manga. Ele se debatia, tentando escapar, mas a velha arrancou-lhe o gorro e puxou seus cabelos. O garoto gritava e a velha estava furiosa.

Sem perder tempo em fincar a sovela, Mikail largou-a no chão e correu para a porta. Subiu os degraus aos tropeções, seus óculos caíram na correria e ele chegou à rua. A mulher batia no menino e puxava seus cabelos, ameaçando entregá-lo à polícia. O garoto continuava a se debater, negando o furto da maçã.

- Não tirei nada! Por que está me batendo? Me solte!

- Mikail separou os dois, segurou a mão do menino e disse:

- Solte-o. Perdoe o menino.

- Perdoar? Ele nunca vai se esquecer de mim. Vou levá-lo à polícia agora mesmo! Ladrão!

- Por favor, solte o menino. Ele não vai mais fazer isso. Deixe-o, em nome de Cristo.

A velha soltou o garoto. Antes que ele saísse correndo, Mikail segurou-o.

- Peça perdão e nunca mais faça isso. Eu vi você pegando a maçã.

O menino começou a chorar e pediu perdão, soluçando.

- Não chore. Tome, eu dou essa maçã para você - disse Mikail, tirando uma maçã da cesta e entregando-a ao menino.

- Está mimando demais esse ladrãozinho - disse a velha. - Seria melhor dar-lhe uma surra para ele se lembrar a semana inteira.

- Nós pensamos assim, mas Deus não nos julga assim. Se é certo surrar esse menino por causa de uma maçã, o que Deus terá que fazer conosco por causa de nossos pecados?

A velha ficou calada. Então Mikail contou-lhe a parábola do Senhor que perdoou a dívida do servo e o mesmo servo quis esganar um devedor. A velha e o menino ouviam, quietos.

- Deus nos ensina a perdoar - disse Mikail - para sermos perdoados. Perdoar a todos, e mais ainda a um garoto sem juízo.

A velha concordou com um aceno de cabeça e suspirou.

- É verdade - ela disse - mas eles estão muito mal-educados.

- Então nós, mais velhos, devemos educá-los melhor.

- Eu sempre achei - ela concordou. - Eu tive sete filhos, e só resta uma filha - e a velha contou que morava com a filha e os netos. - Já estou velha e fraca, mas trabalho muito para cuidar dos meus netos. São crianças lindas! Tão carinhosos comigo! Aksiutka, então, só quer ficar comigo. É só “vovozinha, vovozinha querida” - enquanto falava ia ficando comovida.
- Claro que foi só criancice - ela disse, referindo-se ao garoto. - Vai com Deus, meu filho.

Estava prestes a pôr o saco no ombro quando o menino disse:

- Deixe-me levar o saco para a senhora. Também vou para esse lado.

A velha aceitou e se foram. Ela nem se lembrou de cobrar a maçã a Mikail. O sapateiro ficou olhando os dois se afastarem, conversando. Entrou em casa, encontrou os óculos caídos na escada, inteiros, pegou a sovela e voltou a trabalhar. Logo não havia mais luz suficiente para costurar e Mikail viu passar na rua o acendedor de lampiões. “Preciso acender a lâmpada”, pensou. Encheu de óleo o candeeiro, pendurou-0 e continuou o serviço. Terminou uma bota, examinou-a e aprovou o trabalho. Guardou as ferramentas, arrumou os cordões e sovelas, varreu os retalhos e colocou a lâmpada na mesa. Pegou o Evangelho na prateleira. Pretendia continuar onde tinha parado na véspera, mas o livro se abriu em outra página. O sonho voltou-lhe à mente e julgou ouvir passos no canto mais escuro, mas não distinguia bem quem eram. Uma voz sussurrou em seu ouvido:

- Mikail, Mikail, não me conhece?

- Quem é você? - ele murmurou.

- Sou eu - disse a voz. - Sou eu - e Stepanovitch saiu sorrindo do canto escuro e desapareceu, desfazendo-se numa nuvem.

- Sou eu - disse a voz. E da penumbra saiu sorrindo a mulher carregando a criança, que também sorria, e desapareceram.

- Sou eu - disse a voz mais uma vez. Surgiram a velha e o garoto com uma maçã na mão e desapareceram sorrindo. O sapateiro sentiu uma intensa alegria no coração. Fez o sinal-da-cruz, pôs os óculos e começou a ler o Evangelho na página aberta.

“Tive fome e deste-me de comer; tive sede e deste-me de beber; eu era estrangeiro e me acolheste.”

No final da página, estava escrito:

“O que tiverdes feito pelo menor dos meus irmãos, é a mim que fizestes.”

Mikail compreendeu então que seu sonho fora verdadeiro. O Salvador viera à sua casa naquele dia e ele o havia acolhido.

(Léon Tolstoi - Conto escrito em vida).